Mudanças
Eu sou uma dessas pessoas que dizem “ter nascido velho”. Sim, eu sei, isso é criação y otras cositas más etc.
Independente disso, uma das questões que isso me traz é o fato de que tenho uma certa dificuldade em fazer mudanças, de qualquer tipo, na vida. Levo muito tempo meio empurrando com a barriga, meio me preparando.
O difícil é meter a cara e fazer, mas eventualmente faço e, em geral, acabo me adaptando com certa rapidez, porque — por óbvio — eu também tenho uma outra característica que é me resignar. É pedir pra eu lidar com algo difícil ou chato ou de alguma maneira irritante, desde que necessário ou obrigatório, e eu carrego o piano da vez reclamando menos ou mais.
A mudança da vez foi de moradia, algo que passamos algumas vezes já nessa cidade, mas agora foi uma mudança maior, mais cara, mais “arriscada” e “recompensadora”. Saindo de um apartamento na região central da cidade, pra um local mais longe e região de praia.
O que significa longe dos poucos conhecidos, dos locais em que eu pedia “o de sempre”, da (pré) escola da criança. Enfim, longe de tudo que a gente construiu até então. Mais que isso, foi um passo grande, sair do aluguel, arriscando um financiamento no limite do orçamento mensal e das economias guardadas com muito suor (metafórico) para pagar os custos imediatos.
Com todas as dificuldades, atrasos, gastos fora do planejado e quetais, em dois ou três dias eu já estava na minha casa de novo, como se nada tivesse acontecido, apesar de algumas caixas ocupando mais lugar do que deveriam e várias coisas por comprar, pintar ou arrumar. Mesmo agora, quase um mês depois — a mudança em si foi em 20/12 — ainda tem várias coisas pendentes, embora tenha bem pouca coisa em caixas e os armários improvisados estejam dando conta do que é de dia-a-dia.
Ah, sim, consegui fazer isso tudo graças aos vinte dias de férias que tinha por tirar, porque também o pequeno encerrava o ano letivo em dezembro e esse foi o nosso gatilho pra decidir a data da mudança. Mas a mamata já acabou e esses últimos três dias já foram um desafio a parte para os adultos, se revezando em dar meia atenção pra criança, pra não deixar sozinho de cara pra uma tela e pra entender que pra ele também tá terminando.
Aliás, se para um adulto uma virada dessas pode ser difícil, imagine o receio que estávamos do risco que poderia ser para a criança, mesmo que ela tenha ganho um quintal pra brincar, bem menos regras de silêncio pra seguir e uma praia um tanto mais acessível que antes. Mas esse danadinho parece que se adaptou bem mais fácil que a gente, a benção que é não ter as preocupações de adulto, e segunda deve começar na colônia de férias da própria escolinha, pra ir se adaptando.
Enfim, mudou o local, ambiente, mas esse é só o começo de uma longa nova jornada, indo aonde essa família corujo jamais esteve. Devemos ficar aqui por muito mais anos que nas moradas anteriores, por motivos óbvios, mas isso não quer dizer que é o fim das mudanças — goste eu delas ou não — apenas que teremos um local fixo pra nos ancorar enquanto a vida vai acontecendo por dentro e por fora. Como há de ser, pois a vida é movimento: findou a mudança, findou a vida.